TRAVA-LÍNGUA
(por Moduan Matus)
É uma palavra do português brasileiro e trata-se de uma
ludologia (esfera do conhecimento que abrange o que diz respeito a jogos e
passatempos, brincadeiras infantis, etc.) com a qual se brinca com palavras,
tornando-se uma espécie de jogo verbal que com clareza e rapidez se diz versos
ou frases com grande concentração de sílabas difíceis de pronunciar ou de
sílabas formadas com os mesmos sons, mas em ordem diferente.
O trava-língua tem que ser dito de cor e faz parte do
folclore, em sua Literatura Oral, assim como a poesia (cancioneiro, desafio,
literatura de cordel, testamento de Judas); narrativas (contos histórias,
fábulas, mitos, lendas); romances e cantar de gestas; enigmas ou advinhas;
anedotas, pregões; dístico de caminhão; missivas; provérbios, comparações,
repente, ABC, moda de viola, décima, trava, paremiologia; dentre outras
provocações linguísticas que surgem atendendo aos anseios populares.
Trava-línguas é um palavreado cujo enunciado corrente é
dificultado por uma ou mais obstrução. São palavras paronímicas onde os
vocábulos são quase homônimos, diferenciando-se ligeiramente na grafia e na
pronuncia que, ditas repetidas vezes, com rapidez, trava a língua de quem as
pronuncia.
Diz-se, também, de ou palavra cujos fonemas podem
confundir-se com as de outra(s) por razões etimológicas ou simplesmente
tônicas.
Exs.: deferir e diferir; desvariar e desvairar.
Ao repetir o trava-línguas é melhor se guiar pelas
consoantes. É um recurso muito usado por repentistas para derrotarem seus
adversários em pelejas.
Os trava-línguas são oriundos da cultura popular. São
elementos do nosso folclore como as lendas, os acalantos... etc., alguns estudiosos dizem que são modalidades
de parlendas, podendo aparecer sob a forma de prosa ou de versos. Acredito que
são distintos e apenas se distinguiram de tal e se personificaram.
Os trava-línguas recebem essa denominação devido a
dificuldade que as pessoas enfrentam ao tentar pronunciá-los sem tropeços, ou,
o próprio nome diz: sem travar a língua. Além de aperfeiçoarem a pronuncia,
servem para divertir e provocar disputa entre amigos.
Tudo indica que Amadeu Amaral e Alcides Bezerra foram
autores do termo “trava-línguas”.
Suponho que o trava-língua, com denominação homônima, seja
um jogo praticado desde a antiguidade entre a mulher e a criança no intuito de
exercitar a leitura oral.
Algo parecido encontra-se citado no Kama Sutra como uma das
64 artes a serem estudadas por cortesãs.
O trava-línguas é uma arrumação de palavras, rimadas ou não,
sem acompanhamento musical. Costuma-se interpretar poeticamente numa sequencia
de sons parecidos de forma que desperte a imaginação para as inúmeras
possibilidades da língua.
Existem algumas fórmulas costumeiras que geralmente
acompanham o trava-línguas, como: a repetição. Falar o trava-línguas bem
rápido. Falar mais rápido ainda, desde que de forma clara. E/ou falar três
vezes e nunca ler no momento do exercício, a não ser para a fixação.
A Associação Brasileira de Brinquedotecas diz que o trava-línguas
brinca com o som, a forma gráfica e o significado das palavras. A sonoridade, a
cadência e o ritmo dessas composições encantam adultos e crianças, fazendo
parte de exercícios diários.
Exemplos:
“Quando digo digo, digo digo, não digo Diogo. Quando digo Diogo,
digo Diogo, não digo digo.”
“O doce perguntou pro doce qual o doce mais doce. O doce
respondeu pro doce que o doce mais doce é o doce de batata doce.”
“Olha o sapo dentro do saco. O saco com o sapo dentro. O
sapo batendo papo e o papo soltando vento.”
“A pia pega e pinga. O pinto pega e pia. Quanto mais o pinto
pia, mais e mais a pia pinga.”
“Pinga a pipa pia o pinto, o pinto pia a pipa pinga.”
“Se o papa papasse papa, se o papa papasse pão, o papa
papava tudo, seria o papa papão.”
“O tempo perguntou ao tempo quanto tempo o tempo tem. O
tempo respondeu ao tempo, que o tempo tem tanto tempo, quando tempo o tempo
tem.”
“Lá vem o velho Félix, com um fole velho nas costas, tanto
fede o velho Félix, como o fole do velho Félix fede.”
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