Haicais


HAICAIS NO BRASIL
Por  Moduan  Matus

Waca, assim denomina-se o poema de 31 sílabas. Poesia típica que vem desde a Era dos Deuses. Susano-Wo-No-Mikoto, o irmão da Deusa Sol, fundadora do Império do Sol Nascente, foi quem compôs a primeira Waca (pronuncia-se uaca). A waca tem na parte superior versos de 5, 7, 5 sílabas (de onde irá surgir o haicai) e, na parte inferior, dois versos de 7, perfazendo o total de 31 sílabas.

O termo Haicai vem do japonês, hai-kai. Poema constituído de três versos, dos quais dois são pentassílabos e um, o do meio, heptassílabo. (5-7-5). Eles concentram surpresa, admiração e beleza, entre outras coisas.

Com o aparecimento da Renka (Renga), surgido no século XIII, poema em seqüência, evoluído da Waca, onde dois poetas ou mais compunham os versos em 5-7-5 e 7-7, sempre se referindo a temas dados com antecedência. Eles produziam uma sequência de poemas. Um produzia as primeiras 17 sílabas e o outro as outras 14 sílabas ou vice-versa e, com isso, deram início ao que seria o Haiku ou Haicai como é mais conhecido em nossa língua.

Data de princípios do século XIII, criado por um monge budista, no Japão, no período Ashikaga, onde o cordão umbilical do haicai foi cortado, deixando de ser a parte superior da Waka, tornando-se poema autônomo integral, completo, autosuficiente, desprezando até a necessidade de um título. Nessa forma como hai-kai, originária de Haiku, em certa medida, sinônimos, pois   designam usual e modernamente o poema japonês de 17 sílabas. Sua popularização deu-se no século XVII, por Matsuo Munefusa Bashô (bashô, pseudônimo que significa bananeira), (1644 – 1694), poeta, simbolista, naturalista, paisagista, zen e discípulo de Kingin.
O haicai descreve, de forma concisa, um momento, um estado emocional, uma metáfora ou cena da natureza.
Na origem, o haiku limitava-se a uma descrição objetiva da natureza, capaz de evocar uma resposta emocional não expressa. Depois ampliou o universo temático, sem modificar a concisão da forma.

Os primeiros hai-kais foram compilados por Fujiwara, no Sodaye, organizando-os em três linhas. Escreveu o primeiro haiku conhecido no século XIII, mas o gênero só adquiriu prestígio no período Tokugawa, de 1603 a 1867, quando o poeta Bashô elevou-o a “uma arte refinada e consciente”. 

OS  MAIORES HAICAISTAS:
Yamazaki Sôkan (1445 – 1553), Arakida Moritake (1473 – 1549), Matsu-Unga Teitoku (1571 – 1654), Yasuhara Teishito (1610 – 1673), Michiyama Shôin (1605 – 1682) e Matsuo Bashô. Após Bashô, Enomoto Kikaku (1658 – 1707) e Hattari Ransetsu (1654 – 1707). Bashô argumentou que o poeta não deve colocar-se dentro do haicai, e que o haicai não trata de desgraças, no entanto modificações vieram acontecendo...
No original o haicai não tem rima (ela é mais usada nos que são compostos no ocidente ou nas traduções).
No Brasil os haicais apareceram nos anos 30, do século passado (se bem que, em 1906, Monteiro Lobato escreveu um artigo “A poesia  japonesa”, com tradução de seis haicais) e tem em Afrânio Peixoto um dos primeiros cultivadores, mas foi com Guilherme de Almeida que o haicai passou a ser conhecido de modo mais geral.

No ano de 1936, João Guimarães Rosa ganhou o Concurso de Poema da Academia Brasileira de Letras, com o livro “Magma”, seu único livro de poemas. Livro que ficou inédito durante 61 anos. Foi publicado em 1997. Nele, nas páginas 33 e 34 estão publicados 9 haicais ainda com títulos. O detalhe de tudo fica no “parecer da comissão julgadora”, datado de 22 de novembro de 1936, que foi assinado pelo relator Guilherme de Almeida.

Nenpuku Sato (Japão, 1898 – 1979, Brasil), mestre japonês do haicai no Brasil. Desembarcou no porto de Santos-SP, em 24 de maio de 1927, vindo para trabalhar nas plantações de algodão de Mirandópolis-SP. Ele foi recomendado por Takahama Kyoshi (1874 – 1954), mestre e sucessor de Masaoka Shiki (1867 – 1902), um dos quatro grandes do poema curto, para disseminar os haicais junto aos imigrantes em terras brasileiras. Takahama lhe dedicou um haicai-mandamento antes de sua partida do Japão:
“ Cultivando a terra/Plante também/Um país de haicai.”

Nenpuku Sato criaria, assim, uma “nova” escola de haicais, chegando a ser reconhecido como o mestre de haicai mais importante fora do Japão, atingindo a milhares de imigrantes (discípulos), durante as décadas de 30 e 40, viajando por várias cidades do interior entre São Paulo e Paraná.

O brasileiro Oldegar Franco Vieira, também, foi um dos primeiros a compor haicais. Ele desenvolveu-os nas formas mais ortodoxas, lançando-os em 1940, no livro “Folhas de chá” e também publicou um ensaio sobre o gênero. “O haicai – essencialmente japonês?”

Helena Kolody, ao lançar o seu primeiro livro (1941), publicou, entre os poemas, três haicais com títulos.

                                                                                                      Haicais, por Moduan Matus

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