Contos Minimalistas

DO CONTO MINIMALISTA, UM RELATO, QUASE, UM METATEXTO.
(por Moduan Matus)
O termo Minimalista originou-se em 1903, na Rússia, ocasião em que num partido, reunido em seu segundo congresso, formou-se uma ala minoritária “menchevique”, em real significado.
Essa semântica foi exercitada pelo artista plástico russo Kasimir Malevitch, em 1913, ao se referir a sua obra “Quadro negro sobre fundo branco”, um dos seus principais trabalhos dentro da corrente supremarista (suprematismo) a qual fundou e estabeleceu em manifesto que contou com a participação de Vladimir Maiakovski.
Malevitch obtinha o máximo da simplicidade e mantinha “o domínio do sentimento puro no momento da criação”.
No Minimalismo a arte passa a ser elaborada em temas ou elementos reduzidos e em suas dimensões repetidas ou valorizadas ou destacadas em suas formas.
Foi justamente o quadrado preto sobre fundo branco, de Malevitch que deu origem ao Movimento Minimalista estadunidense; estilizado na década de 1960 (poucos anos depois do nascimento da [teoria] Gramática Gerativa [Gerativismo] de Noam Chomsky [1957]), em Nova York. O movimento ganhou forças nas artes plásticas (pintura e escultura), na música, na dança e na literatura; visando sempre as formas reducionistas de recursos ou elementos e, simultaneamente, nas artes, mostrava a insatisfação com a “ação de pintar sem substância artística”. Mais tarde influenciando também o teatro [Samuel Beckett], o cinema [Robert Bressan], o design, a tecnologia, o projeto automobilístico [Colin Chapman] e instalações de “objetos” e “não-objetos”, dentro da redução visual.
Na literatura do Brasil, há registro na Enciclopédia de Literatura Brasileira, de 1990. De Cesário Prado, “Contos Breves”; de Artur Azevedo, “Contos Efêmeros”; de Nelson Coelho, “Contos Menores”; de Sérgio dos Santos Guterres, “Contos Mínimos”; de Édson Prata, “Contos Miúdos”; de José Filipe Pestana, “Miniaturas em Prosa” e de Alcídio Ribeiro, “Mínimo”.
O sinônimo “microconto” acompanha a modalidade, muitos desses autores “minimalistas” evitam advérbios e geralmente se concentram em “pedaços da vida”, na “estética da brevidade”, na “repetição da frase inicial ou de palavras”, no “culto da velocidade” e na “cultura do impacto”; outros preferem “início, meio e fim bem claros, específico e direto ao ponto”. Há escritores minimalistas que classificam tais contos ao limite inferior de 37 letras e de 50 palavras de limite superior, não contando aqui com o título e pontuação; no entanto é atribuído ao escritor Luís Dill o menor conto em língua portuguesa; com apenas seis letras.     
Em 1973, foi editado pela Eldorado Tijuca; reeditado em 1982 (revista e ampliada), pela Max Limonad o livro “Torquato, neto. Os últimos dias de PAUPÉRIA”, onde, na página 86, com o título de “Mais desfrute, curta”, estão significantes contos minimalistas, começados ou construídos com as palavras “virtude e vício”. 
O destaque minimalista fica para Dalton Trevisan em seus contos-sínteses, em linguagem coloquial “20 contos menores”, 1979; e “Ah, é?”, 1994; considerado o máximo do gênero na época.
Em 1989, no RJ, foi editado pela Ribro Arte – Banca do Pó-etá, de Douglas Carrara, o livrete pré-postudo “Profecias de Nostrakemerich”, de Nostrakemerich ou: luiz carlos da kosta, ou Kosta K, ou luizakarlanostramerich, ou Karlinhos Vanguarda, ou Exkosta K., onde estão editados contos minimalistas, começados com a frase “Enquanto leio Allen Ginsberg”. Na década de 1990 o mesmo autor, já assinando Karlinhos Kontobreve, edita pela Uivos Editora, de São Gonçalo-RJ, do poeta Denoir Quissamã, outro livrete com o título “A verdadeira extória sobre João & Maria & outras fofocas.
E zás!
De lá para cá muitos autores tem arriscado incursões nesse gênero pela visível semelhança entre esses contos, a poesia pós-moderna e a literatura virtual ou literatura pós redes virtuais sociais. Dentre eles: Edson Rossatto, Carlos Seabra, Samir Mesquita e Tiago Moralles.
Marcelino Freire publicou em 2004 a coletânea “Os cem menores contos brasileiros do século”.
Hodierno o controle da síntese e da imagem reduz ao mínimo o conteúdo da comunicação pelo fato de mais agilizá-la ao multifacetado e ao multidimensional universo de seres e coisas que vão se tornando reais a cada piscar de olhos.

Abril de 2015.
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Veja! Um passarinho conta a tarde em canto acima das coberturas; horizontalizando de novo o espaço onde se pode voar.    

Moduan.

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A hora era aquela dos quatro patinhos na lagoa! Refletida lua, logo loa.    
Moduan.

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Não quis ficar no sapatinho, acabou queimando o pé.       
Moduan.

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Plurais para números cardinais? 

– Ah!: Dois, três, quatros, cincos, seis...
Moduan.

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A bruxa mais famosa de nossa região é aquela que não conseguiu mudar o estado de sítio de Bruxelas, daí mudando-se definitivamente, para Vassouras. 
Moduan.

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De tão magro, se encaixou no perfil do poste e esgalgou-se ainda mais. 


Moduan.

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Narcisou-se logo no primeiro shopping, mas saiu de lá réplica de um manequim de vitrina.         

Moduan.

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Andava de quatro. Tornou-se ereto e, ignorante, não percebeu que, aos poucos, se curvava a quem vinha, até se deitar. 

Moduan.

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Gado se abate. Gente! Gente ferra, estigmatizando que nem boiada. 

Moduan.

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O guarda canetou o escrevente que não soube se dirigir às leis do trânsito. 

Moduan.

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